FMI <i>dixit</i>

Ângelo Alves

O FMI emitiu mais um dos seus «relatórios». Como era de esperar o documento é uma tentativa de «naturalização» da linha ideológica e política presente no programa da troika. Ignorando a profunda crise social do País o relatório assume um objectivo fundamental: «São necessárias mais reformas estruturais para reduzir os riscos orçamentais, promover o ajustamento orçamental e apoiar o crescimento». Ou seja, é necessário mais cortes salariais na função pública e nas pensões; aumento da contribuição dos trabalhadores para a Caixa Geral de Aposentações – leia-se aumento da TSU para os trabalhadores; diminuição do emprego na função pública, seja por via da não contratação seja por cortes onde «existem trabalhadores a mais»; e, entre várias outras medidas, «ajustamentos na rede de escolas e no número de professores, particularmente nas áreas rurais» – leia-se menos professores e menos escolas. E nada disto é novidade, já o vimos noutros países.

O que já é novidade é que este relatório dá razão ao PCP quando denunciámos a mentira que constituiu o discurso do «fim da troika» e mais... dá-nos razão noutras matérias. Deixemos-los falar: «Desde o início dos anos 2000 o crescimento tornou-se cada vez mais decepcionante relativamente às expectativas. Em resposta, a necessidade de implementar mais, e mais profundas, reformas estruturais tornou-se tema constante das discussões de política económica em Portugal». Ou seja, tal como o PCP diz, a entrada do euro em Portugal significou estagnação económica e um aprofundamento das políticas de exploração e de privatizações. Mas a razão que o FMI dá ao PCP não se fica por aqui: «Em Março de 2011 [governo PS] o Governo propôs ao parlamento uma reforma estrutural no contexto do (…) PEC IV. Muitas das medidas do PEC IV, particularmente no que toca às privatizações e consolidação fiscal, foram posteriormente integradas no programa de ajustamento [Programa da troika]». Ou seja, o FMI dá, passados quatro anos, razão ao PCP quando votou contra o PEC IV, quando afirma que PS, PSD e CDS/PP são corresponsáveis pelo estado do País e quando afirma agora que a grande diferença entre PS e PSD não está na política, mas sim na sua intensidade e ritmo. E desta vez não fomos nós que dissemos! FMI dixit!




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